terça-feira, 27 de julho de 2010

Lu, Im Memoriam

Milhares de pessoas por dia morrem no Brasil e no Mundo devido à falta de assistência pública. O termo “pública” não se refere a apenas ao estado municipal, estadual, federal ou internacional. Refere-se às famílias, aos vizinhos, aos amigos, entidades representativas, enfim, a todos nós que vivemos em sociedade.
Em cada ação violenta, em cada vítima da fome, da violência, da guerra, todos nós temos uma parcela de responsabilidade. Trazemos conosco tanto a maldição da culpa social pelo gesto mais vil, como também, a glória coletiva de um gesto amoroso. Por exemplo, quando um anônimo na ânsia de salvar uma vida, perde a dele própria. É claro, que aqueles que detêm recursos e poder nas mãos têm maior responsabilidade. Justamente, por isso, por deterem poder e recursos públicos em suas mãos.
A morte recente de Luciano do Santos traz consigo inevitavelmente a dimensão da responsabilidade social daquele que detêm algum tipo de poder público. É claro que A Síndrome de Down reduz o tempo da vida de seus portadores, mas a precocidade da morte de Lu é responsabilidade de todos nós. Principalmente daqueles que poderiam fazer exames médicos periódicos, daqueles que deveria fornecer um nutricionista e dar alimentação adequada.
Todos nós vamos morrer um dia. Mas morrer precocemente ou não, não está nas mãos fatalistas de Deus, mas nas condições materiais de vida e na qualidade de assistência do estado. Será que achamos que a luta titânica do vice-presidente José de Alencar, se deve apenas a sua grande vontade de viver. Ou também se deve a melhor assistência médica que ele pode comprar? Afinal, além de ser vice-presidente do Brasil, é um homem rico.
Portanto, está mais que na hora de não se deixar que outras pessoas com Síndrome de Down morram antes do tempo natural imposto pela doença. Está mais que na hora de deixar de lado as fogueiras das vaidades profissionais, as disputas politiqueiras, à busca de louros políticos mesquinhos, a obstinada busca de se manter num cargo público a qualquer custo e a burocracia insensível que justifique a falta de recursos e pessoal.
As pessoas NÃO ESCOLHEM nascer com síndromes. As pessoas. NÃO ESCOLHEM nascer na miséria. Mas o mundo que encontram, NÓS ESCOLHEMOS que seja assim. O mundo é assim, porque em cada gesto, em cada palavra, em cada regra absurda inventada para que ele seja assim, nós todos somos cúmplices. Todos, absolutamente todos nós, somos responsáveis.
Este mundo, não é um mundo de punição daqueles que nascem com o pecado original, tampouco é um mundo de resgate de reencarnações passadas, este mundo caro leitor, é o mundo do LIVRE ARBÍTRIO, da LIVRE ESCOLHA, e são as escolhas nossas de cada dia que o torna assim.
O que se espera é que a morte precoce da pessoa com de Síndrome de Down, Lu, inspire novas escolhas de todos nós. Para que outros não venham sucumbir injustamente antes do tempo. Ou tão somente ─ já que esse governo municipal é tão legalista ─ apenas execute o cumprimento da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, que em seu bojo, seguindo a Declaração dos Direitos das Pessoas Deficientes da ONU e a Convenção 63 da OIT, estabelece no Artigo 23. Parágrafo I. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos MUNICÍPIOS: cuidar da saúde e assistência pública, da proteção e garantia das pessoas portadoras de deficiência. Amém.
Professor Ari, O Iconoclasta. Esplanada, 14 de julho de 2010, às 07h59min.
Leia esse e outros inéditos no blog: arioiconoclasta.blogspot.com/

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