quinta-feira, 19 de setembro de 2013

SOMOS O QUE PODEMOS SER




Minha cor denuncia
minhas gengivas arroxeadas confirmam
somos todos negros e índios
Meus cabelos negros
minha tez morena
nossa aversão aos espaços urbanóides
atestam nossas origens
somos amantes dos espaços abertos e selvagens
a caça, a pesca e a coleta
enchem nosso cotidiano do lúdico
que nos alimenta e que reforça nosso senso do tempo presente
Mas nossas mentes estão cheias
da cultura da mãe Europa
a filosofia grega é que nos guia
a cultura judaica religiosa
é nossa terceira visão
hoje nos dirigimos ao Deus Desconhecido
tupã já não nos causa deferência e nem medo
quem não tem uma lenda
de uma avó, de um ancestral
feminino
que foi pega no mato
como um boi fujão
somos brancos na visão de mundo
mas biologicamente negros e índios
disfarçados de tantas formas
que já não formamos nenhuma etnia
somos algo novo, indefinido
nos achamos negros
quando temos pele branca
e quando negros
perguntados qual nossa cor
nós dizemos: somos pardos
A mãe Europa
nos deu nosso invólucro mental
afastamo-nos das nossas origens
vemos as causas dos negros e índios
num ponto equidistante entre
entre nós
e nosso edifício étnico
alisamos cabelos
dizemos cabelo bom
cabelo ruim
como se isso realmente existisse
na natureza nada é bem ou mal
Trouxeram um paraíso artificial
e dentro dele perdemos nossa inocência
viramos coisas
nas mãos do invasor
e no escambo cultural
que nos foi imposto
eles levaram vantagem
foi uma troca desigual
E hoje estamos aqui
buscando significados
pra afirmar nosso valores
Ari, O Iconoclasta,Esplanada, 19 de setembro de 2013, às 6:00hs10min.


sábado, 14 de setembro de 2013

A Metáfora do Gato e do Rato



Certa feita
tava eu passando pela rua J. J. Seabra,
quando flagrei desavisadamente a inauguração da 
Biblioteca Jorge Luis Macedo Esplanada.
Na oportunidade ouvi o prefeito da época Diolando Batista se dando ao luxo de filosofar.
Agora na condição de emergente fabricado artificialmente, desculpe a redundância, nos bastidores dos poderes beatíficos e políticos, dizendo em tom de troça que a relação entre prefeitura e a vereança, era uma relação de gato e rato.
Mas o nosso inconsciente não pára de trabalhar.
Elle faz leituras o tempo do todo do ambiente, da conjuntura.
Muitas vezes não elaboramos, 
não trazemos para a superfície,
mas ele vai estar sempre lá, interpretando.
Então foi que caiu a ficha!
Vi que o jogo de gato e rato não é entre a prefeitura e a vereança,
o jogo de gato e rato acontece realmente entre
o governo e o povo.
Nessa metáfora
adivinhem quem é o rato e quem é o gato?
Tal metáfora é tão carregada de significados
que se poderia escrever um tratado de mil páginas!
Não pelo escritor que vos escreve essas singelas palavras, claro.
Vamos explorar algumas?
Vamos explorar o aspecto social dessa relação entre gato e rato.
Onde vive o gato? Quase sempre numa casa. 
Com infraestrutura. Luz, televisão, sofá, fogão e comida!
Onde vive o rato?...
Vive nas ruas. Muitas vezes sem água potável, corrente e farta.
O rato tem vergonha de si. Se esconde, se esgueira e vive das sobras do gato que depois de farto, dorme tranquilo.
Podemos explorar a programação neurolinguística, ideológica dessa relação.
Traduzindo, como definimos e a que associamos o gato e rato?
Eu respondo. O gato é independente. Já foi endeusado pelos egpícios. O gato é limpo. Um animal nobre.
Já o rato, coitado. Execrado por todos. Associados a sujeira, a doenças. Tem fama de ladrão e tudo mais.
Existem infinitos ângulos e pontos de vista a serem explorados
nessa alegoria que afirma que o governo é gato e o povo é rato.
Na natureza o gato é o predador e o rato é a presa.
Como a natureza é sábia!
Em vez de fazer a apologia do eu. O indivíduo como centro de tudo. Aquele herói cheio de amor e dedicação que deve vence todas as dificuldades,
poderíamos usar tal sabedoria consciente contida nesta metáfora que desnuda a relação histórica de exploração entre governo e povo como o principal mote das dinâmicas e das oficinas na escolas. 
Poderia ser explorada nos encontros, nas salas de aula e nas dinâmicas da educação pelo Brasil afora.
Mas isso é uma utopia.
É melhor fazer a apologia do eu. 
O indivíduo pode tudo. 
O herói anônimo que salva a educação.
Ou então aqueles que veem nos salvar
ora montado num cavalo apocalíptico erguendo imagens vãs e guiado pelos desígnios de Deus
ou então aquele que vem nos salvar orientado pela racionalidade cidadã, 
inspirado nos míticos apanágios burgueses da Igualdade, Fraternidade e Liberdade.
Mas ambas, as roupagens, são apenas ratoeiras implacáveis 
para o povo ávido de tudo,
inconscientemente entrar
e docilmente oferecer seus pescoço ao carrasco salvador
de existência tão difícil.
Gostaria de saber
quando o povo de Esplanada 
vai passar ao largo dessas ratoeiras.
Ari, O Iconoclasta