Minha cor denuncia
minhas gengivas
arroxeadas confirmam
somos todos negros
e índios
Meus cabelos negros
minha tez morena
nossa aversão aos
espaços urbanóides
atestam nossas origens
somos amantes dos
espaços abertos e selvagens
a caça, a pesca e a
coleta
enchem nosso
cotidiano do lúdico
que nos alimenta e
que reforça nosso senso do tempo presente
Mas nossas mentes
estão cheias
da cultura da mãe
Europa
a filosofia grega é
que nos guia
a cultura judaica
religiosa
é nossa terceira
visão
hoje nos dirigimos
ao Deus Desconhecido
tupã já não nos
causa deferência e nem medo
quem não tem uma
lenda
de uma avó, de um
ancestral
feminino
que foi pega no
mato
como um boi fujão
somos brancos na
visão de mundo
mas biologicamente
negros e índios
disfarçados de
tantas formas
que já não formamos
nenhuma etnia
somos algo novo,
indefinido
nos achamos negros
quando temos pele
branca
e quando negros
perguntados qual
nossa cor
nós dizemos: somos
pardos
A mãe Europa
nos deu nosso
invólucro mental
afastamo-nos das
nossas origens
vemos as causas dos
negros e índios
num ponto
equidistante entre
entre nós
e nosso edifício
étnico
alisamos cabelos
dizemos cabelo bom
cabelo ruim
como se isso
realmente existisse
na natureza nada é
bem ou mal
Trouxeram um
paraíso artificial
e dentro dele
perdemos nossa inocência
viramos coisas
nas mãos do invasor
e no escambo
cultural
que nos foi imposto
eles levaram
vantagem
foi uma troca
desigual
E hoje estamos aqui
buscando
significados
pra afirmar nosso
valores
Ari, O Iconoclasta,Esplanada,
19 de setembro de 2013, às 6:00hs10min.