sábado, 10 de julho de 2010

OS FOGUETES DA IDEOLOGIA

A ideologia é criada e repetida de várias formas em nosso dia-a-dia. Ela está presente nas relações familiares, está presente nos programas de televisão, também se encontra presente no trabalho e se encontra nos bares etc. Onde estiver um grupo de pessoas agindo e reagindo neste mundo tão desigual, a ideologia estará presente. Ela é a nossa visão de mundo que motiva as nossas ações.
Através dela, a ideologia, é que nós achamos natural o mundo em que vivemos. Um mundo claramente dividido em classes sociais, aqui entendidas como grupo de pessoas que têm acesso total, parcial ou até nenhum acesso as riquezas econômicas, culturais e acesso a postos de comando nas empresas ou no Estado municipal, federal ou estadual.
O Estado dividido em suas três esferas: municipal, estadual e federal e na suas três formas: poder executivo, legislativo e judiciário, detém o poder de governar todo o povo. O Estado Burguês também tem sua própria ideologia. Ela se expressa de várias formas. Por exemplo, o governador Jaques Wagner recentemente pagou com o dinheiro público, uma matéria de primeira página no Jornal A Tarde, exibindo a entrega de um colete à prova de balas a um policial, logo depois da classe ter ameaçado paralisar devido à falta de condições de trabalho para proteger a vida e a propriedade privada tão cara aos proprietários. A ironia ideológica é que o mesmo Estado que se diz técnico, justo e neutro, é o mesmo que multa as empresas do Pólo Petroquímico ou quaisquer outras do país, que deixe seus funcionários trabalharem sem o uso do EPI (equipamento de proteção individual).
Ora, que moral tem o governo do estado de multar empresas privadas que deixam seus funcionários trabalharem sem o EPI, se ele mesmo não fornece um componente do “EPI” do policial que é o colete a prova de balas?
Por que tornar uma obrigação do Estado − que é dar condições mínimas de trabalho aos policiais − uma manchete de jornal de primeira página? Portanto, o Estado em qualquer esfera ou forma, antes de ser técnico e legal, o Estado é político! E por conseqüência é ideológico. Ele mesmo é o produtor e divulgador do modo de pensar dominante.
De forma alegórica podemos dizer que o governador gastou dinheiro para soltar “foguetes desnecessários” para divulgar aquilo que é apenas uma obrigação do seu governo. No universo local acontece a mesma coisa.
A divulgação diária das ações do governo local tais como: a entrega de ovinos e caprinos e sementes para agricultores ainda que muitos a vendam logo depois; a entrega de cestas básicas, ofertadas aos pobres e desempregados do município, ainda que na condição de cidadão e não de prefeito do nosso governante local; a oferta do quit alimentação da “muqueca” da Semana Santa, objeto de divulgação cara por ocasião do São João através da voz de um locutor de outras paragens: a inauguração de um posto policial na praia, ainda que no mesmo espaço antes ocupado por uma casa de artesanato; o café da manhã nas escolas, com apenas um todinho industrializado pão e bolachas; a realização da Festa do São João, ainda que falte a sua principal atração Zezé de Camargo e Luciano; a compra de serviços e produtos de empresas locais, ainda que o pagamento seja demorado ou se espere um momento eleitoral qualquer, e por aí vai...
Toda esta divulgação “foguetária” que se repete exaustivamente tem o objetivo de que o governo tem uma real preocupação com povo da cidade e não apenas de manipulá-lo. Tornar esta falsa preocupação do governo em ajudar o povo parte do senso comum, esta é a função do que é divulgado através dos foguetes todo dia.
Esta também é a função do ícone religioso representado pelo Cristo Redentor de Esplanada. Ele representa a falsa e eterna lembrança de que o “beato” que domina do Estado local é um homem religioso. Ele nos dá a falsa impressão de que somos acolhidos em seus braços abertos e nos faz esquecer que Jesus ficaria muito mais satisfeito se o dinheiro público gasto na construção do Cristo, se transformasse em casas populares, em geração de emprego e renda ou mesmo em milhares de cestas básicas que alimentariam seus fiéis! A maior homenagem que podemos fazer a Jesus é tentar imitá-lo em seu êxtase, em sua alegria e em viver sua máxima de ouro: “TUDO QUANTO, POIS, QUEREIS QUE VOS FAÇAM, FAZEI VÓS ANTES A ELES!” Ou seja, se quisermos confiança, amor, honestidade e respeito, é só dá-los primeiro ao nosso próximo.
Outro ícone ideológico do nosso dia-a-dia é percebido pelos nossos ouvidos na madrugada. É o soltar de foguetes que acordam os fiéis da Igreja Católica. Alguns não tão fiéis acordam com o barulho, mas acabam não levantando da cama e indo pra igreja. Afinal, largar a cama quentinha e acolhedora é muito difícil. Só mesmo com o estímulo inconveniente dos foguetes pipocados durante a madrugada.
Quando Jesus foi orar e depois voltou. Encontrou seus discípulos dormindo. Jesus não os acordou soltando foguetes. Apenas disse: VIGIAI E ORAI! A consciência cristã é um acontecimento interno, não precisa dos ritos e nem do barulho dos foguetes! Imaginem se todas as denominações evangélicas e outras religiões resolvessem também fazer a mesma coisa! Íamos pensar que estávamos numa guerra!
A moral da história é que o chamamento dos fiéis não precisa ser feito através do barulho dos foguetes. Foguetes, aliás, usados para divulgar também qualquer ação política ou picuinhas entre os principais adversários políticos da cidade. A lembrança da necessidade de ir congregar deve ser algo íntimo e silencioso, não precisa ser ostentado com foguetes na madrugada, incomodando o sono daqueles que não congregam a mesma fé, têm que acordar cedo para trabalhar ou não pertencem a mesma religião. A verdadeira religiosidade não é barulhenta e nem é espalhafatosa. É serena e pacífica. Atos político-ideológicos como estes podem ser feitos por justa razão e no horário que não incomode que não compartilha o mesmo ideal. (Acesse o blog: arioiconoclasta.blogspot.com/ , leita e comente textos inéditos!)

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