sábado, 10 de julho de 2010

DEPRESSÃO MENTAL E O NEOLIBERALISMO

O presente texto atribui os excessivos diagnósticos de quadros depressivos no mundo moderno, à influência ideológica imposta pelo moderno neoliberal do capitalismo em sua fase atual.
O capitalismo do pós-guerra e pós-depressão de 1929 nos Estados Unidos, recorreu ao apoio do estado como mediador de suas crises periódicas. A partir dos anos 70 a filosofia do bem-estar social promovida por um estado atuante economicamente, começou a ser encarado como estorvo ao desenvolvimento do capitalismo. Assim, nasceram as idéias neoliberais que centraliza no indivíduo e nas leis que regem o mercado o sucesso do modelo econômico atual.
Segundo Hayek(1987) os homens nascem desiguais por natureza e cada indivíduo deve lutar para atingir seus próprios objetivos ainda que para isso cause prejuízo ao seu semelhante.
O processo de deificação do indivíduo é histórico. Aconteceu quando a burguesia nascente contrapôs ao teocentrismo feudal, o antropocentrismo burguês. “O homem é a medida de todas as coisas dizia” um filósofo da época.
A ideologia do sucesso pessoal imposta pelo neoliberalismo resultou criação de uma psique narcisista, sádica e desamparada, que resultou na formação de quadros depressivos na população. Ela serve de catalisadora de sentimentos como angústia, pensamentos suicidas, tristeza e melancolia. Sentimentos estes típicos que são a que compõem a sintomatologia da depressão clássica.
Ao ver o outro como obstáculo para o alcance do seus objetivos, o indivíduo transpõe para o universo econômico e social, a idéia do existencialismo sartreano de que “o inferno e o outro”.
Ora, que vínculos profundos posso ter com o próximo, se o vejo apenas como um meio e não como um fim em si mesmo. O isolamento, a impotência gerada por essa abordagem das relações sociais, só pode resultar num quadro patológico nas populações do mundo moderno.
Não se pode ver o estado burguês como refúgio como o texto insinua. O próprio estado é uma máquina de gestão das coisas pública que um profundo grau de impessoalidade e burocracia massacrante da criatividade e das individualidades. O mercado livre, por outro lado não possui leis estáveis de auto-regulação e o indivíduo desse modo fica a mercê do acidental, do acaso e da incerteza.
Num mundo que enaltece os feitos individuais e não coletivos, é fácil o aparecimento de celebridades em todas as áreas de atuação humana na música, no cinema, no esporte. Comportamentos suicidas, depressão e toxicomania são muitos comuns nestes meios. Estes famosos são como exemplos às avessas do que acontece como anônimo que os reverencia.
Usando a percepção psicanalítica deste fenômeno, vemos segundo o texto que o superego é quem introjeta os valores da cultura neoliberal, e que o não atendimento do ideal cobrado pelo neoliberalismo, resulta no desenvolvimento de um superego sádico e que culpa o ego (o próprio indivíduo) pelo não cumprimento das expectativas propostas pela cultura neoliberal. Assim, está esquematicamente formado o quadro de forças psíquicas que provoca o alastramento da depressão no mundo moderno.
A busca incessante pelo consumo, é da natureza do modo de produção capitalista. Esta relação com o consumo é transposta para as relações pessoais, onde o “ficar” com o outro e não estabelecer vínculos afetivos mais profundos é comum. Assim, quando o outro não é o obstáculo para a realização de objetivos pessoais, ele é apenas um meio para a satisfação dos nossos objetivos e necessidades.
Assim, adotamos um caráter depressivo, porque desamparados pelo meio social, que nos cobra auto-suficiência, eficiência e desapego ao próximo, ao mesmo tempo nos culpabiliza pelo fracasso. Desse modo, o pensamento neoliberal não cria a depressão, mas cria um quadro de relações sociais e do homem com ele mesmo que propicia seu aparecimento.

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