sábado, 10 de julho de 2010

O MAL E O BEM ESTÃO EM NOSSAS MÃOS

Herdamos da filosofia grega a percepção fixa de que A é A e jamais será B. O dia é dia e jamais será noite. Esta tradição nos foi legada por Platão e Aristóteles. Eram filósofos idealistas e conservadores.
Porém, há uma tradição mais esotérica que não se tornou popular, desenvolvida pelo filósofo grego Heráclito. Nela ele afirma que Deus é dia e noite, inverno e verão. Em Isaías 45:7 está escrito: EU FAÇO BEM E CRIO O MAL. EU O SENHOR. FAÇO TODAS ESTAS COISAS. Para o senso comum é mais fácil lidar com a percepção do estado fixo das coisas e não da sua síntese e da sua dinâmica proposta pela dialética de Heráclito.
Ao mesmo tempo a dialética, que é a lei dos contrários, se impôs ao senso comum, ainda que não a tenhamos percebido. De forma inconsciente e sistemática dividimos os objetos e seres que vemos em duas dimensões que sempre achamos que nunca se misturam e que podem resultar numa síntese qualquer. Por exemplo, o gordo é o gordo e não é o magro; o feio é feio e jamais será o bonito; o sólido é o sólido e tem natureza diferente do líquido; o mal é mal e nunca se mistura com o bem.
Mas se estivermos atentos às transformações, veremos que um dia o magro se tornou o gordo e que pode vir a ser magro de novo. O feio para um pode ser bonito para outro. Até porque uma operação pode fazer o milagre de tornar o Corcunda de Notre-Dame no próprio Brad Pitt. O mal, por fim, poderá se tornar o bem. O que seria das religiões e do processo de auto-conhecimento, se as pessoas não fossem capazes da conversão e da maturidade?
Portanto, o que se pode concluir é que a vida é dinâmica, não é estática e que definir os contrários como objetos e serem estáticos é apenas uma ilusão mental. Como definir o exato momento em que o dia se torna noite e vice-versa? Qual será o peso preciso para definir alguém como gordo ou magro? E não é verdade que “há males que vêm para o bem”? O contrário também é verdade. Quantas vezes tentando fazer o bem acabamos por prejudicar alguém?
Se abordarmos a questão do bem e do mal em relação às relações humanas, veremos que a expressão de Cristo “O MUNDO JAZ NO MALIGNO”, propõe uma tese: o mundo é mal. Somente Ele é o Bem.
Considerando o mal aplicado ao mundo econômico podemos identificá-lo na desigualdade histórica entre quem tem informação e quem não tem; entre quem tem poder e quem não tem; entre quem detém a propriedade e quem não tem. Considerando também o mal aplicado ao mundo psicológico veremos que se expressa através da mentira, da incapacidade de perdoar, dos preconceitos, enfim, todos os sentimentos negativos que compõe a natureza humana.
Mas se pergunta: o que motiva o mal? Será que na ânsia da busca dos bens materiais o homem só consegue ver o outro apenas como meio e não como fim? Então o que motiva o mal não é uma entidade maligna, mas a busca do homem por bens materiais. Por que não afirmar então que o diabo é apenas a projeção dos nossos desejos de poder e de dinheiro, e que para isto não hesitamos em desrespeitar o próximo?
Desta forma religião e o estado são entidades sociais criadas para a perpetuação da desigualdade entre os homens. Estão a serviço da riqueza e da dominação. Estão a serviço a perpetuação, da continuidade da divisão social entre quem sabe e quem é desinformado, entre quem manda e quem obedece e quem tem poder econômico e quem não o tem.
Depois das propostas fracassadas do socialismo de estado da Rússia, da Albânia e de Cuba, o homem se encontrar na chamada crise de paradigmas, de referenciais para propor uma utopia social.
Desta crise filosófica do mundo moderno pode nascer duas atitudes: o cinismo conservador dos que buscam privilégios ou de quem já os tem, defendendo o capitalismo em sua forma selvagem. Ou aqueles que perceberam a modernidade de Jesus e se voltaram para si mesmo.
As verdadeiras transformações não são aquelas propostas ou impostas pelos salvadores religiosos e políticos de plantão, e sim, por aqueles que se importam com a dimensão espiritual do homem e sua conseqüente aplicação na realidade mundana. Não é que Jesus quis dizer na frase: “BUSCAI O REINO DE DEUS E AS OUTRAS COISAS SERÃO ACRESCENTADAS”?
Temos feito o contrário. Buscamos primeiro as “outras coisas” riqueza, poder e dinheiro para a espera inútil de que o “reino de Deus” nos seja acrescentado. Para isso nos travestimos de religiosos, de salvadores políticos para prometer a falsa utopia do bem que é a idéia contrária e dialética de que o “mundo jaz no maligno”.
Estamos colocando nas mãos divinas e daqueles que comandam o estado a responsabilidade de transformar este mundo. A verdadeira transformação da aparente negação entre o mundo que jaz no maligno e a utopia do bem estar social do homem, não está nas mãos de nenhum líder político ou religioso e sim na compreensão libertadora de que nós fizemos o mundo como está, e somente nós em nossa ação cotidiana podemos transformá-lo. Ação do homem criou o mundo e somente a ação humana pode transformá-lo. A transformação, o Bem e o Mal, não estão nas mãos de Deus ou qualquer líder religioso ou político, e sim, EM NOSSAS MÃOS!
Ari, O Iconoclasta. Esplanada, 22 de novembro de 2009, às 02:10min. ALISTE-SE NA CIDADANIA! PARTICIPE E ACESSE O BLOG DA OND: transparenciaesplanada.com.br. (Leia e comente outros textos no blog; arioiconoclasta.blogspot.com/)

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