sábado, 10 de julho de 2010

A HISTÓRIA DA HISTÓRIA

A HISTÓRIA DA HISTÓRIA
Ao longo do Século XX, mas principalmente no seu começo, a História teve seu horizonte de abordagens da realidade muito alargado, devido as contribuições da escola dos Annalles. Nela o cotidiano, a mentalidade, hábitos e costumes, já não eram vistos pela historiografia, como objetos de estudo “menores” na compreensão das sociedades que no tempo e no espaço expressam as suas identidades, do que aquilo que se tinha como o “carro-chefe” da história, que era a história política e econômica de um povo.

Seguindo esta tradição francesa, o artigo de José D” Assunção Barros, nos lembra a contribuição de Roger Cartier para a delimitação do campo de ação da chamada História Cultural, que já deste o século passado não tem voltado apenas o seu olhar para as culturas produzidas pelas classes hegemônicas e que configuram a cultura de elite expressas nas pinturas e nas produções literárias de grandes escritores ou em outros campos da técnica sofisticada humana colocada na arquitetura, na música etc. Para além desta “elitização” da História Cultural está a simples verdade que “ ...Ao existir, qualquer indivíduo já está automaticamente produzindo cultura, em que para isto seja preciso ser um artista, um intelectual ou um artesão...”

Desta constatação é que nascem as noções de “práticas” e “representações”. “Práticas” aqui entendidas como qualquer ação humana produzida em sociedade e que inclui as “práticas discursivas” ou as “práticas não-discursivas”. As “representações” se encontram no universo abrangente e polissêmico da Ideologia.
Por isto mesmo, é que os aspectos culturais não devem ser analisados de forma dissociada dos interesses econômicos e sociais em que são produzidas. Segundo o autor do artigo, citando Cartier “As representações inserem-se em um capo de concorrências e de competiç~eos cujos desafios se enunciam em termo de poder e de dominação”. Portanto, entende-se que qualquer produção cultural popular ou não, reflete a luta de classes, terminologia tão cara ao Materialismo Histórico de Karl Marx.

Quando relaciona as “práticas” com as “representações” o autor do artigo nos lembra que “representações” são aquelas visões de mundo e leituras culturais, evidentemente determinadas por interesses sócio-econômicos, que oram criam, reproduzem ou extinguem determinada “prática” cultura.

Para exemplificar as noções de “práticas” e representações descreve como os mendigos eram vistos e as transformações porque passaram sua aceitação ou rejeição e que funções ideológicas tinham para as comunidades européias desde a Idade Média até o Período Moderno.
O autor do artigo nos lembra a diferenciarmos a diferença entre “noção” e “conceito” que estão no campo dos objetos abstratos-formais porque não se dirigirem diretamente a realidade empírica, mas a delimitação das percepções abstratas do que é “noção” e “conceito”. Para o autor do artigo “noção” é um conceito ainda não amadurecido e aceito plenamente pelas ciências sociais, enquanto “conceito” são aquelas aquisições teóricas que já fazem parte do instrumental das ciências sociais para a analisa da realidade.
Na tentativa de aprofundar estas noções propostas o autor afirma que não é apenas cultura produzir um determinado tipo de arte, mas o próprio consumir dela dá sua parcela de contribuição cultural quando está lendo um livro e nesta leitura elabora as próprias inferências, coloca suas próprias interpretações em relação ao que é lido. Podemos então dizer, que a contemplação diante de um quadro e as impressões que o contemplador tem, também fazem parte do universo cultural. Ou seja, o subjetivo e as sínteses internas que qualquer um faz diante de qualquer objeto cultural e a ações em sociedade daí provenientes, também podem ser colocados no universo das “práticas” e “representações” culturais.

Apesar de ser um campo de estudo historiográfico recente, a História Cultural, pode ter como objeto de estudo até as sociedades anteriores a escrita, portanto, a história propriamente dita. Na condição de único animal que produz cultura. Cultura aqui entendida como qualquer ação humana que produza o artificial e que para se relacionar com tal artificialidade o homem crie símbolos, entre eles a linguagem, para produzir, explicar e reproduzir a cultura que produz.

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