terça-feira, 6 de novembro de 2012

VOCE SABE QUEM EU SOU?


Quanta saudade da frase
"Se você pretende saber quem eu sou"
da música Estrada de Santos de Roberto Carlos
Reparem que se pergunta pela pessoa.
Muitos intelectuais disseram que Jovem Guarda era alienante
Endeusavam a Tropicália como forma de resistência cultural e política
e compositores do porte de Chico Buarque ou Gonzaguinha
Eu ouso dizer que a Jovem Guarda em muitos do

s seus pressupostos
estava além do seu tempo
Há algo mais politizado e moderno
do que se perguntar pela "pessoa"?
O Eu, suas idiosincrasias e escolhas
são mais importantes que qualquer sistema
Minha saudade dessa época se acentua mais ainda
quando lembro da recente indústria automobilística impondo uma cultura
impondo alguns "valores"
a velocidade, o amor perdido, a liberdade e a irreverência
eles pairavam sobre universo motorizado tupiniquim
Enquanto hoje
um estilo musical simplificado, repetitivo e de melodia previsíveis
reverencia a compra e o uso de uma doblô
Silvano Sales, o Rei do Arrocha
diz que a Doblô é "o carro da balada, o carro do amor"
reproduzindo o hedonismo moderno
onde as pessoas são coisas, objetos de prazer
mercadorias como o próprio carro
elas se tocam como coisas e não como pessoas
hipnotizados pela cultura consumista da propaganda
onde os valores estão nos produtos da indústria
e não nas pessoas
A doblô em tese uma carro de "família"
virou um motel "pra 7 mina"
Ah! como teu saudade dos "anos de chumbo" como catalisador de criatividades artísticas
Eu sei é uma heresia política
Para muitos até repugnante só de se pensar
Mas quando vejo esse "movimento" ocupando todos os espaços da mídia
Da dó de ver
A doblô é um carro carro
carro de classe média pra cima
então viva o arrocha
ele como o futebol
faz desaparecer magicamente num lance lindo
no movimento frenético de quadris
dentro de um carro de "família"
as insanáveis desigualdades sociais
e a profunda alienação ideológica de um povo
Ari, O Iconoclasta

MULHERES E CARROS



Eles amanhecem o dia
retirando carinhosamente a neblina do pára-brisa dos seus carros
É uma relação de amor
Mais tarde
Com o fundo do carro aberto
embalados por hits pops, românticos ou pérolas do pagode e do axé music
eles lavam religiosamente os tapetes da coisa amada
Melhor amar os carros que suas mulheres

...Afinal, se frear ou virar o volante pra qualquer lado
o carro obedece docilmente
já as mulheres...
Elas têm vontade própria, são manipuladores e imprevisíveis
O carro não
É confortável e dá sensação de onipotência quando estamos ao seu volante
Já as mulheres expõem nossas fragilidades, nossos medos
e manipulam nossas culpas
melhor então amar os carros
Algumas até dizem
"mulher é artigo de luxo"
Se apropriam do machismo inseguro
pra manifestarem seu consumismo
parece que o mercado capitalista e suas variedades
tem uma relação de amor com as mulheres
O carro e a mulher
acabem virando "coisas"
foi isso que o fetiche do consumo fêz
nos transformou em coisas
se relacionando entre coisas
e comprando coisas
onde estão as pessoas?
Ari, O Iconoclasta

CHUVA NAS MALVINAS



Não se pode chover
no meu local de trabalho
Alunos e professores

...quase todos acham normal
o lamaçal defronte a escola
as pingueiras aumentam
a cada chuva
Conseguimos lidar
com relativa tranquilidade
com a tampa da fossa
na iminência
de se abrir e engolir uma criança
como um monstro de contos de fada noturno
O forro da secretaria
vez em quando cai ruidosamente
sobre nossas cabeças
Nada que mais absorvível
do que um susto momentâneo no local de trabalho.
A tampa do tanque
rente ao chão
apesar de ferro e pesada
não tem tranca
um convite as crianças
que podem se afundar e jamais voltarem
de um devaneio curioso
É também convite pra sabotagens irresponsáveis
de alunos ou qualquer adulto mal intencionado
As salas numa penumbra permanente
são um convite a subserviência
ao analfabetismo político
lembrado pelo genial Brecht
e a aceitação da passividade profissional e ideológica
Os alunos aprendem rapidamente essa lição.
Mas tudo isso é amenizado
afinal, a escola tem nome de Santa
Nossa Senhora Aparecida
Uma intrusa no espaço que deveria
da luz do conhecimento
e não da irracionalidade da fé conformista
defendida
por um candidato consegue fazer a mistura
bizarra, estranha e hipócrita
do politico, do beato e do cidadão de bem.
Eu aqui
na minha perplexidade criativa
contínuo bradando de forma autoterapêutica
pra ouvintes desinteressados
afinal,
desde que o mundo é mundo
a corrupção, a mentira e o conformismo se intauraram
e ninguém é melhor que ninguém.
É assim que fala todos os conservadores
os conspiradores da continuidade
pra justificar sua apatia covarde
e suas "vantagens espúrias".
Ari, Ari O Arivaldo