sábado, 10 de julho de 2010

RELIGIÃO E POLÍTICA EM SANTA BRÍGIDA-BAHIA

.Arivaldo de Souza Dantas
(Historiador, funcionário da CAR. Jornal A TARDE (CADERNO MUNICÍPIOS)
trabalhando na Uneb) 17.03.92


Por volta de 1945, estabeleceu-se no sertão de Santa Brígida, então distrito de Jeremoabo, o líder messiânico Pedro Batista. Sua fama de profeta, curandeiro e orientador espiritual espalhou-se durante os anos de peregrinação pela região limítrofe aos estados de Alagoas, Pernambuco e Sergipe, provocando grande afluência de romeiros para o lugarejo constituídos apenas de 14 casas de taipa.
Revelou-se então, um articulador político inteligente ao conciliar com as forças locais e estaduais a sua estadia definitiva naquela localidade inóspita. Temia-se na época que sua presença e dos romeiros que o acompanhavam resultassem numa nova Canudos. Habilmente afirmava quando abordado a respeito que: Conselheiro foi senhor de guerra. Eu sou senhor de penitência.
O controle social acordado entre as partes dividiu em duas categorias os habitantes da cidade nascente. Os romeiros que deveriam prestar obediência ao padrinho Pedro Batista e os que estavam sujeitos à coerção da justiça. A frase que selou esse acordo foi dita pelo líder religioso: “O meu romeiro é aquele que pratica o bem, não fuma, não bebe e obedece aos meus mandamentos”.
Assim, com o passar dos anos comprou com as doações que recebeu a Fazenda Gameleira, atual Colônia, ao coronel João Sá e decidiu então loteá-la para os romeiros.
Demonstrando mais uma vez habilidade política entregou ao IBRA, a responsabilidade de distribuir os lotes para não ferir susceptibilidades e nem gerar dissensões entre os que o seguiam.
Santa Brígida, que precisava para sua sobrevivência buscar tropas de burros carregadas de alimentos nas localidades mais próximas e desenvolvidas como Jeremoabo e Paulo Afonso, transformou-se a partir da década de 70 no centro de uma das principais feiras da região.
Junto a essas atividades de cunho econômico-social Pedro Batista continuou a desenvolver seus trabalhos espirituais realizando curas e formando uma geração de curandeiras para atender os que o procuravam.
Na condição de líder messiânico tinha sob controle a legitimação eleitoral da classe política de Santa Brígida. Tanto que o primeiro prefeito da cidade eleito em 1962, precisou do seu apoio para conseguir tal vitória. Mesmo após sua morte, em 1967, o grupo de romeiros que permaneceu sob a liderança de dona Dodô, sua substituta espiritual, continuou a definir o resultado político-eleitoral do recente município de Santa Brígida.
Além disso, sua vocação profética se realizou, entre outras vezes, quando uma previsão feita ainda em vida se tornou fato na eleição vitoriosa da atual prefeita Rosália França. Romeiros contemporâneos seus dizem que segundo vaticinava o padrinho Pedro Batista: “Essa menina ainda vai ser prefeita e trazer tudo de bom para aqui”.
A origem, desenvolvimento e atualidade da história político-religiosa de Santa Brígida, certamente tem sido uma simbiose entre setores sociais distintos que em sua dinâmica geram o crescimento dessa comunidade, dando-lhe uma identidade específica. Onde a abordagem mística da realidade por seus habitantes tem papel de destaque em sua configuração.

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