quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Ó ESPLANADA, QUE TRISTEZA!

Numa mistura complexa, extravagante e eficiente, o ex-prefeito, ex-feio e iletrado, Basta da Cruz, conseguiu reunir em sua ação política e pessoal o apadrinhamento religioso e político dos coronéis, o beatismo político institucionalizado e o empreendedorismo patrimonialista e concentrador de renda da burguesia baiana e brasileira.
Não se sabe ao certo se este perfil é próprio da síntese interna entre sua psique e o contexto da sua própria existência, ou se é apenas o reflexo da sociedade esplanadense. Talvez seja este o modelo que melhor atenda os interesses dos setores mais abastados e ao nível de percepção de mundo do restante da população.
O investimento no assistencialismo sistemático é o que dá sustentação ao irracionalismo religioso vigente em nossa cidade.. Quando faz uma operação, dá um remédio caro ou dá um transporte a um potencial eleitor, com recursos públicos, este se torna “eternamente” grato por seu privilégio atendido. É privilégio porque o que foi feito a determinados apadrinhados não se estende uniformemente para toda a população carente do município.
Vivemos numa espécie de Pax Católica. O calendário litúrgico, as festas mundanas a ele atreladas e a filantropia religiosa de ocasião em leilões oportunos, são escancaradamente usados como instrumentos de dominação política. Até os evangélicos, antes iconoclastas de plantão como o escritor que vos fala, se renderam às atrações financiadas pela prefeitura e docilmente louvam ao Senhor, bem embaixo da Estátua de Ouro do Cristo erguido junto a Praça de Eventos, como que a testemunhar de braços abertos a submissão material, política e ideológica de ricos e pobres da nossa amada Esplanada.
O perfil do beato magnânimo e pacífico que faz o contraponto com o agressivo e autoritário “dotô”, se construiu através de testemunhos orais, devidamente mitificados, em que ele, o beato-mor, costumava deixar que cortassem seu fornecimento de água e de luz, para que os mesmos serviços não fossem cortados nas casas dos seus apadrinhados.
Na verdade, a hegemonia político-religiosa desse grupo liderado pelo beato-mor é tão concentradora de renda e excludente como o próprio estilo de gestão laica do “doto”. A diferença se encontra na abundância de recursos (esse grupo lida com três vezes mais recursos que o “dotô) e na construção da imagem do beato-mor, como homem pacífico, religioso e empreendedor.
O fato é que o “dotô” teve duas chances de construir uma hegemonia e não o fez. Em vez disso, sofreu duas derrotas eleitorais, mesmo após governar a cidade em dois mandatos alternados. Enquanto, o Beato-mor, aproveitou uma única oportunidade para a construção de uma hegemonia que já dura, praticamente 12 anos,
Obras faraônicas sem efetiva funcionalidade, criação de ícones religiosos, cívicos e administrativos, junto à inserção dos setores médios em cargos comissionados e de confiança, além de buscar consumir produtos e serviços produzidos dentro do próprio município, (ainda que para alguns demore anos para pagar) foi o que permitiu a construção desse grupo no poder.
Hegemonia política tão consolidada que faz que os mesmos setores que orquestraram a derrota eleitoral do “dotô” e que hoje se encontra no poder, convivam e até sejam coniventes com as distorções e desmandos humanos, políticos e administrativos de quem governa nossa cidade.
Ari, O Iconoclasta. Esplanada, 09 de dezembro de 2010, às 21h45min.

2 comentários:

Anônimo disse...

É verdade Ari e o pior é que estes homens não acreditam no Deus que els pregam, pois se acreditassem teriam medo do inferno e não fariam o que fazem, usam a religião para se beneficiar, mas quem sustenta estes homens são os religiosos, os analfabetos funcionais e os egoístas interessados em suas benesses particulares, os que andam em cima do muro, esperando a melhor oferta... É triste, é desesperador...

Unknown disse...

O título inicial ia ser Triste Esplanada, fazendo uma alusão, ao poema de Gregório de Mattos. Depois achei que era mais conveniente e local, (rsrsrs) colocar "ó Esplanda que Tristeza" que parafrasea o "Ó Esplanda, que alegria",da obra-prima de hino do nosso Beator-Mor. rsrs Um abraço e obrigado pelo comentário, tão raro pelas paragens desse blog.