terça-feira, 14 de dezembro de 2010

CADÊ AS LIXEIRAS DO CALÇADÃO DE ESPLANADA?

É comum os jornais noticiarem pichações em muros e até mesmos em monumentos públicos. Num julgamento imediato e superficial, poder-se-ia dizer que isso se deva a uma questão cultural, da falta de educação mesmo, dos brasileiros.
Há cerca de cinco anos foi construído o Calçadão em Esplanada. Nele cotidianamente as pessoas andam nas manhãs, nas tardes e até á noite. Esta manhã estava eu realizando minha caminhada matinal, quando um transeunte querendo jogar um copo descartável no lixo, se queixou da falta da lixeira para colocá-lo. Como não tinha nenhuma até onde a vista alcançava, acabou por jogá-lo no chão mesmo.
Todos os receptáculos de lixo que existia no Calçadão, desapareceram! Não existe, literalmente, mais nenhum em todo o Calçadão que permeia toda a linha do trem que corta o centro da nossa cidade.
Fico então a me questionar. O que levou a depredação que fez desaparecer todas as lixeiras do Calçadão? Muito irão atribuir a uma questão cultural brasileira. Que não temos respeito à coisa pública e que não temos consciência que são nossos impostos que pagam por esses benefícios. O fato é que aos poucos foram os populares que fizeram desaparecer as lixeiras do Calçadão.
Acredito que o que inspira esses atos de vandalismo anônimos e contínuo é justamente a falta de exemplo que nossos governantes e nossas lideranças políticas nos dão. O instinto predador em relação à coisa pública acontece com algo mais sutil e não tão à vista dos olhos das pessoas, que é apropriação do dinheiro público. Será que os 700 milhões de reais que o atual grupo no poder teve acesso nos últimos10 anos também não foram depredados e vandalizados?
Senão, como explicar a ascensão econômica de pessoas ligadas ao poder em todo esse país. Alguns dizem que uma liderança política forte da nossa cidade, um dia disse: “Vamos investir na política, que a política é nossa loteria!”
Existe uma visão mais predatória e vândala mais que essa em relação com a coisa pública? Ora, se lideranças que pregam o respeito ao que é público em seus discursos de campanha, defendem a moral e têm até mesmo uma fé, têm essa visão, imagine os pobres expropriados do emprego, do estudo e que vivem de bicos e a mendigar favores de políticos?
O que se tenta dizer é que o comportamento das nossas lideranças não inspira comportamentos que respeitem a coisa pública. O cidadão comum, muitas vezes não elabora mentalmente sua revolta. Não a transforma numa ação cidadã. A externa com pequenos e intermitentes atos de vandalismo durante noite. Longe dos “olhos e ouvidos do rei”. O que se ver apenas é o resultado final: o desaparecimento das lixeiras no Calçadão.
Quando o povo vê a extrema concentração de renda e privilégios nas mãos daqueles que governam e daqueles vivem em torno das administrações municipais, estaduais e federais; quando vê a falsidade de suas palavras e observa venalidade dos seus atos, o que resta ao povo? Cometer de forma inconsciente e perversa esses pequenos atos de vandalismo.
A diferença entre esses pequenos vândalos do povo e os grandes vândalos que dirigem o estado, é que os predadores do estado o fazem com consciência. Por que a nossa herança cultural justifica essa visão cínica em relação à coisa púbica, onde a honestidade é vista como entrave, um empecilho para condução de qualquer governo.
Ari, O Iconoclasta. Esplanada, 16 de dezembro de 2010, às 10h34min.

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