quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

A DIPLOMACIA DO “CUSPE” E DO “CARINHO”

No programa de rádio do governo, exibido e gravado ainda no mês corrente (outubro de 2009) o qual, faz parte da grade de programação da FM l04 de Esplanada, o repórter do programa patrocinado pela prefeitura, em que são lidas e divulgadas notícias locais, regionais e do mundo, tendo como base de informações o maior meio de comunicação escrita do Norte/Nordeste, o jornal A Tarde, além, de divulgar as ações do governo local, ao se referir ao confronto entre o governo e o SINDSERME (Sindicato dos Servidores Municipais de Esplanada), que lidera o movimento grevista decidido democraticamente numa Assembléia Soberana, disse que a dificuldade de se chegar a uma negociação a contento, se deve à falta de diplomacia, e que com um pouco de “CUSPE” e “CARINHO” tudo se podia conseguir.
Apesar de usar palavras vulgares e com intenção claramente obscena, o raciocínio faz sentido se ele quis dizer que com boa vontade e a consciência de que numa disputa democrática existem perdas e ganhos, qualquer negociação pode ser feita.
A deflagração de uma greve pode não ser diplomática (a do cuspe e do carinho) ─ principalmente para aqueles que ganham para defender o governo ─ mas a greve, é um instrumento democrático, legítimo e nobre para os trabalhadores e seus representantes no SINDSERME.
Na ânsia de defender o governo, que é o seu trabalho, o repórter do programa, recorre ao autodidatismo superficial que o caracteriza e que o habilita, em sua opinião, a invadir domínios nos quais é totalmente ignorante e a fazer levianas interpretações de “psicologia de botequim”, dizendo que aqueles defendem os interesses dos trabalhadores o fazem para projetar neuroses e frustrações.
Mas é a esta diplomacia, “a do cuspe e do carinho” que o atual prefeito se utiliza quando diz que é impossível conceder qualquer tipo de reajuste ao servidor por falta de verbas? Quando tenta transformar um movimento de cunho político, no sentido da luta por interesses trabalhistas que é a função do SINDSERME e é para isso que ele existe, numa discussão meramente contábil?
A diplomacia “do carinho e do cuspe” se desnuda, quando numa tentativa maquiavélica de diluir o movimento o prefeito adia a entrega das informações para o dia 27 do corrente mês.
Ao tentar minar o Movimento desta forma, contando com o tempo e com as pressões psicológicas através das ameaças de demissões e confecção de listas dos funcionários que aderiram a greve, é que o atual governo está se preocupando com o povo de Esplanada, especialmente com a educação do município?
Qual a dificuldade de se ter em mãos as receitas e despesas de um município e declarar que não pode pagar as perdas em relação à inflação do período e ratear o FUNDEB para os servidores da educação?
Simplesmente porque não é uma questão técnica e sim ideológica. A informatização imposta por lei dos dados contábeis de qualquer prefeitura tornou estes dados disponíveis no PORTALTRANSPARÊNCIA. Lá veremos que o município de Esplanada tem recebido em média 6 milhões de reais por mês. Qual é a dificuldade em atender as reivindicações legítimas e nobres dos servidores, se a folha atual de pagamento do município ─ mesmo inchada com cargos comissionados e de confiança totalmente desnecessários ─ não chega a 1.8 milhões de reais? E quando se sabe que por lei um gestor pode gastar até 54% da folha de pagamento em pessoal. Segundo a lei, portanto, o prefeito pode gastar em média 3 milhões de reais com despesas de pessoal em relação aos rendimentos atuais da prefeitura. Se ele só gasta 1.8 milhões, os 1.2 milhões restantes que podem ser gastos em folha de pagamento, estão indo para onde? Será apenas a velha e boa política da elite em concentrar privilégios através dos cofres públicos?
Desse modo, cai por terra o argumento falso e contábil de que não se pode atender as reivindicações dos servidores por falta de dinheiro. O que falta é vontade política e capacidade administrativa.
Não se pode lidar com a complexidade social e política de um movimento grevista de servidores, da mesma forma que se administra uma pequena empresa privada. Esta atitude autoritária e mesquinha, só tem contribuído para que o atual governo seja alvo da insatisfação popular e daqueles que podem crescer politicamente neste cenário caótico da administração desse município.
A vulgaridade explícita na sugestão figurada do uso “cuspe” e “carinho” como instrumento diplomático, uma pérola do raciocínio brilhante do repórter do programa de rádio do governo de Esplanada, não nos impede de dizer, que quem não usa a “diplomacia do cuspe do carinho” não é o SINDSERME e os servidores públicos, e sim, o atual prefeito. Diplomacia esta, proposta de forma infeliz, porém verdadeira, e que não está sendo usada pelo atual gestor em todos os setores da sua administração.
Professor Ari, O Iconoclasta – Esplanada, 15 de outubro de 2009 às 18h58min.

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