quinta-feira, 17 de setembro de 2009

O QUE DEUS DEU O DIABO NÃO TOMA

Dois pensamentos políticos têm se enfrentado nos últimos 20 anos em Esplanada. Os dois representantes praticamente começaram juntos sua vida pública.
Um de formação universitária, representante do pensamento laico, com grande desejo de concentração de patrimônio, incapaz até então de formar um grupo dominante, tendo sua própria família como base, por leitura errada do eleitorado local, achando que apenas o mero assistencialismo para as classes desfavorecidas o manteria no poder.
O outro de origem humilde, representante do pensamento religioso, com grande desejo de afirmação social e econômica, jamais freqüentou a “academia”, mas com grande esperteza percebeu que manutenção no poder de um, grupo dominante passaria principalmente, pelo atendimento dos interesses dos setores médios da população, da classe comercial e dos “senhores da terra”, os quais, com relativo poder de consumo dependem da prefeitura local para geração de renda.
O primeiro sem dar assistência a seus fiéis eleitores e sem encontrar meios de fazer crescer sua força eleitoral, continuou por oito anos seguidos a fazer visitas temporárias a cada dois anos, ora para eleições legislativas, ora para a eleição do executivo local, insinuando assim, um comportamento descompromissado com os eleitores locais.
O segundo, além de desenvolver um projeto político-eleitoral para longo prazo, baseado no profissionalismo e no marketing, possuía o toque religioso que o legitimava politicamente. Estimulou com conveniência, o velho e bom maniqueísmo, a mitológica e eterna luta entre o bem e o mal, entre a luz e as trevas. Assim, o resumo do pensamento eleitoral, a seguir relatado, se espalhou pela população.
Uma eleitora no dia da eleição passando numa rua e questionada a respeito do seu voto, sem pensar disse: - “O que Deus deu o diabo não toma!”. Ora caro leitor: Quem é o diabo? O que Deus deu? E a quem? A resposta é clara.
Não sabendo a “pobre” eleitora que nem Um é divino nem o Outro é diabólico. Ambos são apenas humanos. Não é Deus que dá poder as pessoas e sim o povo (ela mesma) através do seu voto. Mas convenientemente ou enganadamente, deu ao seu voto um ar de providência divina.
A idéia do apóstolo Paulo de que todo o poder vem de Deus, é questionável. (ou será que discordar do apostolo Paulo é heresia?) Existem heresias sendo praticadas e as pessoas não estão percebendo ou fazendo “vista grossa”. Jesus quando tentado o que a ele foi dito? “Tudo isso te darei, se prostrado me adorares!”. Referia-se o tentador a que tipo de poder? O político. Como explicar então a ambição pelo poder temporal do setor religioso da população?
O poder político vem da imposição das idéias, da visão de mundo daqueles que nos dominam. Tem origem na família, na escola, no ambiente de trabalho, etc., da leitura que temos do mundo, das propostas de condução da coisa pública, portando, é totalmente mundano e humano.
O poder de Deus é espiritual – que só se apresenta ao verdadeiro crente capaz de se despir de todos os “poderes” que cultiva. O poder político é fruto do ego, da vaidade, da necessidade de justificar a exploração e o domínio do homem sobre o homem. E nada há de divino nisso!
Desse modo, usando o pensamento religioso cristão, criou sua base ideológica, culminando com a construção de uma estátua do Cristo (monumental, para nossos padrões locais), alicerçando-se como referência de político de origem religiosa e com apelos humanistas.
Coerente com este pensamento, alçou a vida pública seu sucessor que atendia duplamente aos seus interesses: o executivo local continuaria com a costumeira aura de catolicismo, além de ser alguém, de profunda confiança que pertencia convenientemente ao seu universo familiar. Deixou assim, os políticos “prefeituráveis” que buscavam seu apoio para sua sucessão, literalmente “a ver navios”.
Estamos todos nós aqui eleitores, na expectativa que o exercício do poder executivo e legislativo locais, traga ares de modernidade e respeito as reais necessidades de uma população carente de serviços públicos de qualidade e da realização do potencial que nossa cidade tem de ser tornar uma verdadeira capital regional.
PROFESSOR ARI

8 comentários:

Daniel Soeiro disse...

Há um quê de inocência nos homens que tentam legitimar sua busca por poder, associando sua vontade à de um Ser infinitamente superior e de Natureza Inconcebível...
Melhor que tomar emprestado uma autoridade que há pouquíssimos homens foi delegada (a autoridade de governar segundo as leis da consciência, ou Deus - como queira...), seria melhor prostrar-se diante deste Ignoto Ser que a tudo compreende e diante d´O Qual nossa inteligência, sentimentos, volições são poeira insignificante...

Nossos esforços, quando motivados pelo ego, se imiscuem no seio do esquecimento total. Não há glória humana que não se dissipe diante do aterrador e sempiterno poder do tempo...

A única forma de resolver o problema é entender a vida como um mero testemunho de si para a realidade que nos cerca...

Agindo, a partir de um testemunho interior, poderíamos pensar em alguém servindo a tudo e a todos, porém sem jamais associar seu serviço a qualquer idéia de superioridade divina...

Deus glorifica àquele que O glorifica em suas ações humildes, sempre equilibradas, sempre testemunhando a própria insignificância diante d´Aquele para quem tudo é sem mistério, Ele próprio, o Maior Mistério!

:)

Unknown disse...

Agindo,a partir de um testemunho interior, podéríamos pensar em alguém servindo a tudo e a todos, porém sem jamais associar seu serviço a qualquer idéias de superioridade divina...
Disseste tudo com estas afirmações! Um abração!!

pedro fernando disse...

esses textos sairam perfeitos
muitobom.parabens.

Anônimo disse...

Parabéns Ari pelo seu texto expressando assim a sua realidade local o que não difere muito da minha aqui em Jequié/ba, desde ja confesso que muito mim chama atenção a sua escrita e a forma como a politica na Bahia vem sendo manipulada, enquanto a população perece.Dessa forma percebo tb que a história tb contribui pra entender o passado, visto que a mesma é um profeta com o olhar voltado para trás.

Unknown disse...

Alô comentário anônimo de Jequié!
É isto que também acho. As realidades locais, muitas vêzes mais reveladoras da exploração, do domínio político de um povo, do que as realidades nacionais. Acho que é isso.
Obrigado pelo comentário anônimo e ainda assim bem vindo.

Unknown disse...

Valeu pelo elogio Pedro Fernando!

Anônimo disse...

Li a primeira parte dos textos e sem dúvida eles nos ajudam a entender um pouco do que está abaixo de nosso nariz sem precisar citar nomes já detectamos o alvo. Parabéns pela coragem, muitos tem essa vontade de se expressar através de um entrentenimento com esse mas não tem atitude.
Estudante, Esplanada 2009

Unknown disse...

Caro Amigo, isto não é "entretenimento"! Isto é cidadania!
Seja bem-vindo a ela!
Valeu pelo comentário.