segunda-feira, 4 de julho de 2011

TUDO EM NOME DE DEUS

Recentemente o embate do Fundamentalismo Evangélico-Cristão Norte-Americano contra o Fundamentalismo Muçulmano do Afeganistão, resultou em dois tipos de baixa. A primeira, certamente menos impactante e lamentosa, foi a queima desrespeitosa e irracional pelo pastor americano Terry Jones do livro sagrado para os muçulmanos: o Alcorão; a segunda é de causar horror. O assassinato de 12 trabalhadores da Agência da ONU em resposta a queima do Alcorão.
O que há de novo nesse embate fundamentalista religioso dos tempos modernos entre duas religiões praticamente irmãs? No conteúdo nada. Na forma sim. Quando digo forma, digo o cenário, afinal, a história não pára. Que a sede da ONU no Afeganistão é usada pelo governo americano e outros governos das nações mais ricas do mundo como agência imperialista local, isso é verdade. Mas o que não é aceitável é que um grupo de fundamentalistas muçulmanos invada o edifício da ONU para estrangular e decapitar doze funcionários.
Religião, não é para religar o homem a Deus. Religião não é para despertar nosso amor? Nossa solidariedade indistinta? Então por que esses incidentes irracionais e desumanos cometidos em nome da religião acontecem?
A religião verdadeira deve ir além das denominações, além dos budismos, além dos cristianismos e dos muçulmanismos. A religião verdadeira é universal. Transcende cor, classe social, doutrina ou filosofia de qualquer um. A verdade única e universal é que somos irmãos e que as diferenças entre irmãos, são belas e naturais, com exceção das de cunho social e econômico.
Não foi pela Terra Santa que os cristãos medievais realizaram as Cruzadas e dizimaram populações inteiras de gentios? Não foi em nome da Igreja Católica que mulheres ditas heréticas eram queimadas como bruxas?
O que isso tem a ver com religião? Eu mesmo lhes respondo: nada! Isso tem a ver com doença emocional humana. Não creio que só a determinação de interesses econômicos explique e justifique tais atos. A verdadeira religião não é o ópio do povo e nem dona de uma única verdade. A verdadeira religião é libertadora. Ao nos percebermos como iguais, não sentiremos mais necessidade dominar o outro. Essa é a verdade que políticos e religiosos buscam sempre esconder.
Até quando vamos achar correto queimar Livros Religiosos Sagrados de outras religiões em praça pública? Até quando vamos achar correto enforcar e degolar pessoas inocentes por nos achar ofendidos por quem queimou esses Livros? Até quando vamos matar para impor nossas crenças religiosas ou outras quaisquer?
Até quando a história futura vai procurar estudar, não o conteúdo, mas a forma, o cenário que justifica tais gestos de irracionalidade fundamentalista em que se queima livros religiosos e a crueldade irracional em trajes de indignação religiosa que mata pessoas?
Até quando a frase lapidar de Cazuza: “eu vejo o futuro repetir o passado, eu vejo um museu de grandes novidades”, vai continuar com tanta atualidade. Vê-se nessa frase de Cazuza não só um momento de pura lucidez profética, mas também de perplexidade e cansaço existencial de uma alma sensível. Uma alma que conhecia a historia e não suportava vê-la se repetindo em suas formas mais nefastas como um museu de grandes novidades.
Ari, O Iconoclasta. Esplanada, 21 de maio de 2011, às 21h30min.

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